Notícias
08
JUN
Idosos são sub-representados em estudos com wearables
Pesquisas deixam de lado justamente os que mais se beneficiariam com o uso de dispositivos amparados pela inteligência artificial Sou uma defensora da tecnologia a serviço do cidadão (nunca o contrário) e, com frequência, escrevo sobre como ela pode ser útil para dar qualidade de vida aos idosos. No entanto, o pervasivo preconceito contra os mais velhos também se infiltra nas pesquisas nessa área. Relógio inteligente com dados sobre a saúde do usuário Peter Charlton para Wikimedia Commons Trabalho recém-publicado no “The Lancet Digital Health” mostra que tem havido um esforço para incluir minorias, indivíduos de baixa renda e comunidades rurais nos testes com wearables, os dispositivos e sensores que coletam informações sobre a nossa saúde. Entretanto, pessoas com declínio cognitivo e demência têm sido deixado deixadas de lado nos estudos – justamente aqueles que mais beneficiariam! Wearables e aplicativos de smartphones podem ser grandes aliados para os profissionais de saúde terem acesso a informações valiosas sobre todo o espectro que envolve as demências. A inteligência artificial é capaz de transformar dispositivos em ferramentas que monitorem mudanças de comportamento; previnam quedas; determinem trajetórias cognitivas e funcionais; e diminuam a carga dos cuidadores. Há um mito de que idosos são incapazes de participar de estudos com wearables devido à sua baixa competência digital, mas há ampla evidência de que tal situação mudou muito depois da pandemia, com uma adesão maciça dos mais velhos à tecnologia. Os números saltam aos olhos: o número de pessoas vivendo com algum tipo de demência deve ultrapassar 150 milhões em 2050. Mesmo diante do potencial de uso, idosos estão sub-representados em trabalhos como o Apple Heart Study. A idade média dos participantes é de 41 anos e apenas 6% têm mais de 65. A alegação inicial era de que a sensibilidade do dispositivo para detectar fibrilação atrial caía significativamente acima dos 75. A sub-representação dessa faixa etária se soma ao volume menos consistente de dados nos casos de demência, já que o paciente provavelmente tem menor aceitação da tecnologia. Dispositivo acoplado a câmera com diversos tipos de sensores Katarzyna Sila-Nowicka para Wikimedia Commons Uma revisão sistemática (que reúne pesquisas relevantes sobre uma determinada questão), realizada em 2022, constatou que havia poucos trabalhos sobre o uso de wearables e sensores, ou qualquer outro tipo de tecnologia alimentada por inteligência artificial, em idosos que recebiam cuidados de longo prazo. Há desafios para quem apresenta perda de memória, como se lembrar de carregar a bateria ou apertar um botão num horário específico. O que fica claro é que será preciso construir soluções customizadas para estimular a adesão à tecnologia e garantir a continuidade da sua utilização.
06
JUN
'É fundamental que o paciente conheça sua doença', ensina apresentador com esclerose múltipla
Montel Williams foi diagnosticado em 1999 e se dedica a compartilhar o que aprendeu sobre a enfermidade A data foi instituída nos Estados Unidos, mas merecia ter um espaço em nosso calendário: 11 de maio é Dia da Consciência sobre a Saúde Mental dos Idosos. Foi quando assisti a um simpósio on-line cujo principal palestrante era o apresentador Montel Williams, titular de um popular talk show durante quase duas décadas. Em 1999, aos 43 anos, foi diagnosticado com esclerose múltipla, doença que veio acompanhada de uma depressão severa e dores lancinantes. Sua jornada para vencer as limitações o transformou e hoje ele se dedica a compartilhar o que aprendeu: Montel Williams: apresentador compartilha o que aprendeu ao lidar com a esclerose múltipla Divulgação “É preciso que acreditemos em nossa força interna, em nosso próprio poder, porque boa parte do tratamento depende de nós. É fundamental que o paciente conheça sua doença, busque o máximo de informação, porque médicos não são deuses, nem sabem tudo. Se nos guiarmos apenas pelo diagnóstico, estaremos restritos à expectativa deles. Na época, ouvi coisas como: ‘em cinco anos, você estará numa cadeira de rodas’; ou que podia esperar mais dez anos de vida. Como alguém pode dizer tal coisa sem me conhecer?”. O objetivo de Williams foi se tornar “íntimo” de sua enfermidade. “Ainda não havia internet e mergulhei nos livros para aprender o máximo que pude. Não me dei por vencido”, lembrou. O primeiro passo foi mudar seu estilo de vida, privilegiando a atividade física e uma alimentação de qualidade: “Exercício é bom, não importa a idade, e o que ingerimos tem impacto direto no nível de inflamação do organismo. Eu tenho esclerose múltipla, mas ela não me tem. As pessoas devem acreditar no seu poder interior”. Em 2013, o apresentador criou um programa de saúde e fitness. Tornou-se um defensor do uso da maconha para fins medicinais, já que a droga foi valiosa para o controle da dor. “Quero estar ocupando vivendo, e não morrendo, por isso estou atento a todos os novos protocolos e tratamentos que surgem. Vale para a esclerose múltipla, mas também para câncer, lúpus ou fibromialgia”, afirmou, acrescentando que é preciso demonstrar nossa gratidão por todos que nos dão apoio: “Escreva uma carta ou um bilhete para quem esteve ao seu lado, dizendo que espera que essa pessoa saiba o quanto é importante para você”. A esclerose múltipla é uma doença neurológica autoimune crônica, provocada por mecanismos inflamatórios e degenerativos que comprometem a bainha de mielina que reveste os neurônios das substâncias branca e cinzenta do sistema nervoso central. No Brasil, estima-se que existam 40 mil casos da doença, que atinge predominantemente mulheres e indivíduos na faixa entre os 20 e 40 anos. O quadro inflamatório afeta as funções coordenadas pelo cérebro, cerebelo, tronco encefálico e medula espinhal, produzindo sintomas como fraqueza, perda da força muscular, falta de coordenação, dor ou queimação na face, alterações na visão, alterações de humor, depressão e ansiedade.
04
JUN
Como proteger os joelhos e quando a cirurgia é necessária
Hoje já há próteses fabricadas especificamente para o paciente que não demandam ajustes nos ossos ou ligamentos Há alguns meses, escrevi sobre cinco partes do corpo que não podemos ignorar depois dos 50. Nossos sobrecarregados joelhos estão nessa lista e são o assunto desta coluna. Estima-se que, na próxima década, haverá um aumento de 673% nas próteses de joelhos em todo o mundo. Para falar dos problemas mais frequentes, dos exercícios mais indicados e de quando é necessário se submeter a uma cirurgia, conversei com o médico Marco Demange, que fez mestrado e doutorado na Faculdade de Medicina da USP, onde é professor do Departamento de Ortopedia e Traumatologia, e pós-doutorado no Hospital for Special Surgery, associado à Universidade de Cornell. O médico Marco Demange, professor do Departamento de Ortopedia e Traumatologia da Faculdade de Medicina da USP Divulgação Quais os problemas de joelhos mais frequentes com o envelhecimento? Uma das questões mais frequentes são as lesões dos meniscos e da cartilagem. A artrose surge como consequência desses desgastes. Há uma “receita” para protegê-los? Há alguns cuidados importantes, como evitar o excesso de carga frequente. Nesta situação, encontram-se o excesso de peso ou de impacto nos esportes. O trauma eventual intenso, ou seja, torcer ou bater com força os joelhos, também deve ser evitado. Em algumas atividades físicas, como tênis de praia, futebol e vôlei, entre outras, isso pode acontecer. Outra medida é manter uma boa força muscular, com destaque para a musculatura da coxa e para a musculatura sustentadora do tronco, composta por quadril, abdômen e lombar. Para quem já passou dos 50 ou 60, que exercícios são eficazes para preservar a estrutura do joelho? E quais seriam os menos indicados? Os mais indicados são os exercícios resistidos, ou seja, a musculação, e os com baixo impacto. Quando a pessoa optar por exercícios aeróbicos, deve dar preferência para os de menor impacto, como natação, caminhada leve, remo ou os elípticos (como esteira e bicicleta ergométricas, ou simulador de subida de escada). Evitar os exercícios com impacto frequente intenso, como pular e saltar, assim como os com trauma eventual importante: esportes de quadra nos quais há contato físico, como o futebol. É sempre possível optar por tratamentos não cirúrgicos ou há casos em que eles não trazem alívio? Nos casos mais avançados de artrose, em que há instabilidade, quando o joelho falha ao andar, ocorre dor contínua, limitação da mobilidade ou desvios significativos do formato (ele entorta de forma relevante), os tratamentos sem cirurgia geralmente não têm efeito suficiente para devolver uma boa qualidade de vida ao paciente. Qual é a cirurgia mais comum a partir dos 50 anos? Apesar de a cirurgia mais comum ser a artroscopia do joelho, principalmente para as lesões meniscais, atualmente se entende que, para os casos de artrose mais severa, ela tem uma efetividade baixa. Neste caso, a cirurgia mais indicada, e com melhor resultado, é a de prótese do joelho. No mundo todo, incluindo o Brasil, a cirurgia de prótese de joelho vem se tornando cada vez mais frequente. Em termos percentuais, o maior número de procedimentos ocorreu na faixa de pacientes entre 50 e 65 anos. O que são as próteses de joelho customizáveis e por que são superiores? São próteses fabricadas especificamente para cada pessoa e, por esse motivo, são mais caras. O formato da prótese é igual ao ideal para o paciente, não demandando ajustes nos ossos ou ligamentos para adequar a sua colocação. O resultado é uma sensação de “joelho normal”. Assim, considera-se que pacientes têm um potencial de fazer uma gama maior de exercícios e atividades esportivas recreacionais. Qual é a importância do exercício após a cirurgia? Em todas as cirurgias de prótese de joelho, o paciente deve fazer exercícios físicos para recuperar a perda muscular que ocorreu nos anos em que houve uma menor utilização da musculatura, decorrente da dor e da artrose. Qual é o potencial do tratamento com células-tronco? Especificamente para a artrose, o tratamento com ortobiológicos, como produtos que contenham alguma porcentagem de células-tronco mesenquimais, pode modular a dor e, eventualmente, permitir uma redução na velocidade de evolução da artrose. Como todos os tratamentos mais recentes em medicina, temos estudado o potencial de sua utilização e, nos próximos anos, saberemos mais sobre as melhores indicações.
01
JUN
Um em cada três adultos com diabetes pode ter doença cardiovascular assintomática
Concentrações levemente elevadas de duas proteínas na corrente sanguínea são um sinal de mudanças na estrutura e no funcionamento do coração Níveis elevados de duas proteínas que indicam doença cardiovascular foram detectados em pacientes assintomáticos, mas que eram portadores de diabetes tipo 2. A pesquisa foi publicada ontem no “Journal of the American Heart Association” e reforça a importância do monitoramento cardíaco de diabéticos. Diabetes: concentrações levemente elevadas de duas proteínas na corrente sanguínea são um sinal de mudanças na estrutura e no funcionamento do coração Wikimedia Testes para medir a troponina cardíaca de alta sensibilidade e um peptídeo natriurético de nome comprido (N-terminal pro-B-type natriuretic peptide) já são utilizados na detecção de insuficiência cardíaca. No entanto, concentrações levemente elevadas dessas proteínas na corrente sanguínea podem ser um sinal de mudanças na estrutura e no funcionamento do coração. “O que constatamos é que pessoas com diabetes tipo 2 sem história de doença cardiovascular ou infarto têm maior risco de complicações cardíacas. Normalmente nosso principal alvo é combater o colesterol, mas talvez o diabetes tenha um efeito no coração, não relacionado aos níveis de colesterol, que cause danos aos pequenos vasos. Nossa pesquisa sugere a necessidade de outras terapias para diminuir esse risco”, afirmou Elizabeth Salvin, professora de epidemiologia da Universidade Johns Hopkins e coautora do trabalho. Os pesquisadores analisaram as informações de amostras de sangue de mais de 10 mil adultos, coletadas entre 1999 e 2004, com o objetivo de determinar se doenças cardiovasculares em pacientes assintomáticos poderiam ser diagnosticas através do nível de proteínas cardíacas que servem como biomarcadores. Entre os participantes havia indivíduos com e sem diabetes tipo 2, mas nenhum tinha histórico de enfermidade cardiovascular quando o estudo foi iniciado. Quais foram as conclusões: Entre os adultos com diabetes tipo 2, 33.4% tinham sinais de doença coronariana; no grupo sem, eram 16.1%. Para os pacientes diabéticos, os níveis elevados de troponina e N-terminal pro-B-type estavam associados a um risco aumentado de morte em geral e por problemas cardíacos. A prevalência de troponina elevada era significativamente maior em pessoas portadoras da doença há mais tempo e que não controlavam as taxas de glicose. Outra pesquisa, também divulgada mês passado, mostra que a atividade física realizada no período da tarde traz mais benefícios para o controle dos níveis de glicose de pacientes com diabetes. O estudo se estendeu por quatro anos e envolveu 2.400 participantes, que usavam um dispositivo para medir a atividade física. No fim do primeiro ano, foi constatado que aqueles engajados em exercícios de moderados a vigorosos na parte da tarde tinham a maior redução dos níveis de glicose. Esse grupo manteve tal condição no quarto ano do trabalho e foi o com mais chances de suspender a medicação.