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26
JUN
O mito do abismo entre as gerações
“Clichês e estereótipos alimentam batalhas, como se vivêssemos uma guerra cultural, e nos distraem do que realmente importa”, afirma professor O senso comum sempre aponta para um abismo irreconciliável entre as gerações – e está errado. Esta é a tese do professor de políticas públicas Bobby Duffy, que tive o prazer de conhecer on-line, em palestra que deu ao Instituto de Gerontologia do Departamento de Saúde Global e Medicina Social do King´s College London, onde trabalha. Autor de “O mito geracional: por que quando você nasceu importa menos do que imagina” (“The Generation myth – why when you´re born matters less than you think”), lançado em 2021, é enfático: “Clichês e estereótipos sobre o abismo entre gerações alimentam batalhas, como se vivêssemos uma guerra cultural, e nos distraem do que realmente importa”. Bobby Duffy, professor de políticas públicas do King´s College London Divulgação Cita a questão das mudanças climáticas, na qual a população madura é apontada como o principal vilão da situação: “as gerações mais velhas são as que mais tendem a se engajar em boicotes por motivos sociais. A General Social Survey (ligada à Universidade de Chicago) pesquisou, entre 1993 e 2018, o que os americanos pensavam sobre o assunto. Diante da pergunta sobre se concordavam que o aumento da temperatura no planeta é muito ou extremamente perigoso, o posicionamento dos baby boomers foi subindo ao longo dos anos, encostando no patamar da Geração X”. "Houve uma migração dos idosos para as cidades menores, enquanto os jovens ocuparam os grandes centros. Essa separação é combustível para desentendimentos e interpretações equivocadas". Só para lembrar: baby boomers são os nascidos depois da 2ª. Guerra Mundial, até o começo da década de 1960; a Geração X compreende os que nasceram entre o princípio dos anos de 1960 até 1979; em seguida vêm os Millenials (1980-1995); a partir de 1996, a Geração Z. “Sempre há um gap entre as gerações. No meio da década de 1980, 60% dos nascidos antes de 1945 achavam que as mulheres deviam ficar em casa, e somente 30% dos baby boomers concordavam com isso. Em 2021, 45% dos baby boomers afirmavam ter orgulho do império britânico, sentimento compartilhado por apenas 20% da Geração Z”, discorreu. No entanto, Duffy chamou a atenção para problemas sociais que são profundos e nada têm a ver com um conflito de gerações. Por exemplo, a dificuldade de os mais jovens conseguirem conquistar o sonho da casa própria. “Comparando o volume de patrimônio de baby boomers e da Geração X, na faixa dos 45 anos os primeiros têm o dobro de riqueza dos outros. Mas não se trata de uma guerra na qual os mais velhos são culpados. Na verdade, houve uma escalada de preços dos imóveis e do sinal para a compra, um descolamento enorme entre o custo do imóvel e o rendimento médio”, explicou. Na sua opinião, o século XXI assistiu a uma segregação etária que é prejudicial para todos: “houve uma migração dos idosos para as cidades menores, enquanto os jovens ocuparam os grandes centros. A ‘tensão’ entre gerações não é apenas natural, mas essencial e benéfica. Faz parte do metabolismo demográfico que impede a estagnação. Essa separação é combustível para desentendimentos e interpretações equivocadas. Temos que focar no fim da desigualdade intergeracional e proteger a conexão entre todas as faixa etárias”.
24
JUN
Harvard responderá processo sobre fotos de escravos feitas para pesquisa racista em 1850
Mulher que afirma ser descendente de escravos que foram obrigados a se despir para tirar fotos para um estudo que tentava provar inferioridade dos negros move ação contra famosa universidade. Justiça considerou que instituição deve responder a processo. Em foto de 2019, Tamara Lanier responde a perguntas da imprensa em Nova York. Ela afirma ser descendente de escravos fotografados para um estudo racista de Harvard em 1850 AP/Frank Franklin II A mais alta corte do estado Massachusetts decidiu, nesta quinta-feira (23), que a Universidade Harvard pode ser processada por maltratar uma descendente de escravos que foram forçados a serem fotografados em 1850 para um estudo de um professor que tentava provar a inferioridade do povo negro. A Suprema Corte de Justiça de Massachusetts decidiu que o “papel horrível e histórico” de Harvard na criação das imagens significava que a universidade tinha o dever de responder com cuidado aos pedidos de Tamara Lanier por informação sobre as mesmas, o que, segundo ela, a universidade não fez. Mas o tribunal afirmou que a universidade não precisa entregar as fotos a Lanier, concluindo que, apesar das circunstâncias “escandalosas”, a mulher de Connecticut não tem direito de propriedade sobre elas. A decisão parcialmente ressuscita um processo que Lanier iniciou em 2019. Lanier e seus advogados, Ben Crump e Josh Koskoff, disseram em um comunicado conjunto que a decisão “histórica” permitiria que ela “continuasse esta batalha legal e moral por Justiça”. Harvard, sediada em Cambridge, Massachusetts, disse que estava analisando a decisão. As imagens mostram Renty Taylor e sua filha Delia, escravos em uma plantação da Carolina do Norte que foram forçados a se despir para as fotos tiradas para um estudo racista do professor de Harvard Louis Agassiz. O juíz Scott Kafker escreveu que Harvard havia “descaradamente” descartado as alegações de Lanier sobre um vínculo ancestral e desconsiderou seus pedidos por informação sobre como estava usando as imagens, incluindo quando a universidade usou a foto de Renty na capa de um livro. Entenda o que é racismo estrutural
23
JUN
Kemune: a cidade de 3,4 mil anos que reapareceu no Iraque devido à seca
23
JUN
Vem aí a nutrição de precisão
O objetivo é criar dietas sob medida, que funcionem de acordo com as características e circunstâncias vividas por cada indivíduo Alguns (ou muitos) quilos a mais? Taxas altas de colesterol? Quem enfrenta esse tipo de desafio quase tem que se satisfazer com uma dieta de restrições – e conheço gente que não pode mais ver peito de frango grelhado com salada... No entanto, se depender da Sociedade Norte-Americana de Nutrição (ANS em inglês), em poucos anos uma revolução mudará os parâmetros da alimentação. No encontro anual da entidade, realizado entre 14 e 16 de junho, a grande vedete das discussões foi a nutrição de precisão. Como o nome diz, trata-se de um novo campo de pesquisa cujo objetivo é criar dietas sob medida, que funcionem de acordo com as características e circunstâncias vividas por cada indivíduo. Nutrição de precisão: objetivo é criar dietas sob medida, de acordo com as características de cada indivíduo Carlos Silva para Pixabay Os mais otimistas talvez já estejam salivando com a perspectiva de não terem que abandonar seus quitutes preferidos, mas ainda há um longo caminho pela frente. Ele começa com o projeto “All of us” (“Todos nós”), que pretende montar um enorme banco de dados sobre um milhão de americanos. Para participar, basta ter 18 anos e concordar em compartilhar informações médicas, responder a questionários e fornecer amostras de sangue, urina e saliva para exames laboratoriais e de DNA. Os cientistas querem aprender não apenas sobre a biologia dessas pessoas, mas também sobre seu estilo de vida e o ambiente no qual vivem. O motivo? Quanto maior a diversidade do material, mais perto estarão de formular tratamentos personalizados. A iniciativa é da agência governamental de pesquisa biomédica dos EUA (National Institutes of Health), cuja meta é tornar a medicina de precisão – que leva em conta todo o ambiente no qual o indivíduo está inserido – uma realidade para a população. O primeiro grande movimento será na área da nutrição e, com o volume de dados do banco biológico que está sendo criado, o passo seguinte será desenvolver algoritmos que mapeiem padrões dietéticos e prevejam respostas individuais aos alimentos. “A nutrição será vista como a soma de biologia, comportamento, influências sociais e meio ambiente. Poderá se transformar num grande passo no combate à obesidade, um dos maiores fatores de risco para as doenças cardiovasculares e o diabetes”, enfatizou o médico Bruce Lee, professor da City University of NY (CUNY). Essa é a beleza do deep learning: com uma grande quantidade de dados processados por algoritmos, os computadores aprendem sozinhos e são capazes de realizar previsões de forma progressiva. “Vamos usar todos os tipos de biomarcadores e daremos sequência a um estudo de três fases sobre desafios alimentares e intervenções de precisão. Serão recomendações individualizadas para moderar ou otimizar esses biomarcadores”, afirmou Holly Nicastro, coordenadora do programa. A primeira etapa contará com 10 mil participantes, além de todos os que integram o “All of us”, para mapear sua dieta e as respostas fisiológicas; na segunda, serão avaliadas três intervenções de curta duração em comunidades; por fim, os ajustes nutricionais serão feitos em domicílios. O início está previsto para 2023. Nesse admirável mundo da ciência, um novo estudo com 6 mil adultos mostrou que os genes ligados à percepção do sabor desempenham papel relevante nas escolhas alimentares que fazemos. Exemplificando, uma pessoa pode descartar certos tipos de comida devido a seu perfil genético e, sabendo dessa particularidade, poderia incorporá-los à dieta com temperos que diminuíssem a rejeição.